terça-feira, 3 de julho de 2007

Eu, a Dra. Phil...

Acerca da complexidade dos relacionamentos. Falava-se.
Nem sempre é fácil, esta coisa de compartilhar a vida com outra pessoa. ‘A vida’, entendida na sua globalidade, e partilhá-la com alguém, com tudo o que isso acarreta.
Nada a este nível é passível de simplificação.
Poucos são os que ficam sozinhos. Mesmo os que já passaram pela experiência – e tiveram uma má experiência – voltam, em geral, a procurar os pés de outra pessoa no fundo da cama.
É assim que funciona. Porque nos faz falta a companhia, porque precisamos de ser amados, porque precisamos de amar, porque queremos tratar de alguém ou queremos alguém que trate de nós… podia continuar, por aqui fora, enunciando os motivos que nos levam a tomar a decisão.
Tomamo-la. E depois? Bem, depois…
Depois vem tudo o resto.
Eu posso falar de cátedra, pelo pouco tempo que passei ‘sozinha’. Deve ser uma espécie de síndroma do filho único. Detestei, como bem se sabe, ser filha única. Mas fui. Sou. Tendencialmente egoísta (?).
Dizia que passei pouco tempo ‘sozinha’, no sentido em que dei pouco tempo de intervalo entre uma relação e outra.
Terminada uma, pensava ‘agora, vou viver a minha solteirice à grande e à francesa’.
Qual quê!
Quando dava por ela já tinha um amigo especial a rondar-me a porta. E assim começavam mais quatro anos de namoro.
Se calhar tinha-me feito falta ter menos namoro. Ser mais biscateira. Mas nunca me deu para isso. As relações corriam-me bem. Correram-me sempre bem. Talvez por ser fácil conviver comigo. Não posso armar-me em falsa modesta. Tenho tendência para o longo prazo, já o escrevi aqui. As pessoas que entram na minha vida permanecem. E, bolas, devo ter algum mérito nisso, ou não?...
A questão, que talvez algumas pessoas ainda não tenham entendido, é que os relacionamentos que envolvem afecto entre pessoas requerem entrega, na mesma medida em que requerem disponibilidade para receber.
A minha [regra geral] boa disposição ajuda, mas também tenho os meus maus dias.
Tentei, há uns tempos, dar uns conselhos a um amigo prestes a casar. Certamente ignorou-os. Eu desculpo-o. ;)
Regra número 1: espaço. Na minha perspectiva, o sucesso da vida em comum depende, em grande medida, do respeito pelo espaço de cada um. Espaço físico e não só.
Espaço, em todas as esferas da vida de um casal.
Espaço para o que é nosso. Espaço para os nossos pensamentos. Espaço para a nossa família. Espaço para os nossos amigos. Espaço partilhado pelos dois. Espaço para o nosso trabalho. Espaço para os nossos hobbies. Espaço para as nossas fantasias. Espaço na cama. Disso não abdico, OK? Preciso de dormir bem para viver bem e a minha metade da cama é só minha, pelo menos enquanto eu lá estiver! :)
As tarefas domésticas fazem parte do meu espaço. Chamem-me antiquada, que eu aguento. Costumava dizer que não queria ter um marido que agisse como o meu querido Pai em relação à lida doméstica.
Agir como o meu Pai significa NÃO AGIR.
Mas o que é certo é que impus quase automaticamente as tarefas domésticas como sendo o meu espaço. Porque me dá prazer. Lamento, mas é assim mesmo.
O meu marido não faz o jantar e não arruma a cozinha. O meu marido não põe a roupa a lavar, não a estende e não a passa a ferro. O meu marido não aspira e não limpa a casa de banho. Porque eu não quero, OK? [feministas, mandem abater-me!]
O meu marido faz a cama, quando tem tempo, algo que eu agradeço, e faz café, depois do jantar, todas as noites. Mas se de repente ele começasse a substituir-me em todas as tarefas domésticas sei, tenho a certeza, que começaria a sentir-me inútil, dispensável.
Afinal, para ser a mulher da casa estou lá eu, ou não?
Esta é só uma pequenina parte da história.
Ligar a aparelhagem no máximo e dançar até me doerem as pernas também faz parte do meu espaço. Vibrar com os romances das telenovelas da SIC, gritar e bater palmas quando o ‘Renato’ e a ‘Isabel’ [personagens de ‘Páginas da Vida’, OK?], se beijam, faz parte do meu espaço.
Comprar mil e uma merdas absolutamente desnecessárias para decorar a casa, encher a varanda de vasos com sardinheiras, trancar-me na casa de banho durante duas horas enquanto faço a depilação e me besunto de máscaras e cremes, sair com a minha Mãe e com as minhas amigas e voltar a casa carregada de sacos de compras, fazer serão no trabalho porque gosto mesmo daquilo que faço, ter a roupa metodicamente organizada no guarda-vestidos e nas gavetas, falar sozinha, rezar à noite, antes de dormir, programar o despertador para tocar 15 minutos antes da hora a que realmente preciso de me levantar, chorar quando me apetece, tudo, tudo, tudo isto faz parte do MEU espaço.
Se é fácil, aturar-me?
Suponho que sim. Porque o meu sorriso também preenche muito espaço. E sou especialista em obter sorrisos de volta.

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