quinta-feira, 19 de abril de 2007

Green-eyed monster

O tema da conversa era o ciúme.
Esse “monstro de olhos verdes”.
Diz-se que não há amor sem ciúme.
Entendido enquanto manifestação do receio que se sente relativamente à perda de alguém que se ama, o ciúme até pode ser compreensível.
Mas tenho, sinceramente, muita dificuldade em entender os ciumentos obsessivos e, mais ainda, em desculpar as atitudes motivadas pelo ciúme.
Claro que já senti ciúmes. Senti ciúmes dos homens com quem me relacionei, senti ciúmes de amigos e de amigas, senti ciúmes dos meus pais, em miúda.
Mas muito poucas vezes me deixei dominar pelo ciúme.
Lembro-me de, há muitos anos, ter tido uma crise de ciúmes. No nosso grupo de amigos existiam vários casais de namorados e houve um tempo em que o meu insistia em elogiar a namorada de um dos amigos, comparando-me com ela.
Quando tinha ataques de mau feitio ele, para piorar, punha-se com conversas do género “a não-sei-quantas é tão porreira, tão divertida, sempre tão bem-disposta… devias pôr os olhos nela”.
Ora isto era claramente estupidez da parte dele.
Chama-se 'cutucar a onça com vara curta'.
Ninguém gosta de ser comparado, muito menos quando a comparação nos é desfavorável e menos ainda quando é o nosso namorado a fazer a comparação, com a namorada de um amigo dele!
Irritava-me tanto com aquela conversa que comecei a embirrar solenemente com a rapariga que, coitada, não tinha culpa nenhuma da idiotice do meu namorado.
Tornámo-nos, depois, até muito amigas.
Mas não foi fácil, para mim, lidar com aquilo. Passei a olhá-la com desconfiança e cheguei a não suportar vê-los (a ela e ao meu namorado) a conversar e a rir, coisa que era perfeitamente normal que acontecesse, dado que éramos todos amigos.
Julgo que a coisa só amenizou depois de um dia o meu namorado me ter jurado a pés juntos que era a mim, e só a mim, que queria, mesmo que às vezes eu fosse insuportável.
Ora era precisamente aqui que eu queria chegar.
Na base do ciúme só pode estar, na minha opinião, uma grande insegurança e/ou grande falta de auto-estima.
Felizmente, os anos foram-me reforçando ambas, a segurança e a auto-estima…
Ataques de ciúmes, crises de ciúmes, cenas de ciúmes, redundam em quê?
Em discussão, em agressão, em problemas.
Achar que a galinha da vizinha é melhor que a nossa ou que a relva é mais verde no jardim do vizinho é perfeitamente normal.
Que atire a primeira pedra quem, seja ao fim de um mês ou de dez anos de casamento, não se sentiu atraído por outra pessoa que não o seu ‘legítimo/a’.
Quando alguém me provar que as pessoas ciumentas são menos enganadas que as não-ciumentas, 'I rest my case'.
Mas todos sabemos que isso não é verdade.
As pessoas ciumentas têm tantas probabilidades de ser enganadas como as não-ciumentas, sendo que, como bem apontava uma amiga minha há pouco, são normalmente este tipo de atitudes que motivam a mentira.
Afinal, entre contar a verdade e dar azo a uma discussão e ‘omitir’ e passar incólume, mais vale ‘omitir’, ou não?...
Julgo que na nossa geração já muito poucas pessoas mantêm um casamento só por manter ou para salvaguardar aparências.
Fica casado quem quer e porque quer.
Longe de mim imaginar que o meu marido permanecia casado comigo por algum outro motivo que não fosse o facto de querer, e muito.
É por isso que me custa entender o ciúme. Acho que é uma forma muito básica de demonstrar amor. Muito simplista. Muito infantil.
Sobretudo quando vem acompanhada de revistas passadas às mensagens recebidas e enviadas pelo telemóvel da outra pessoa, as chamadas feitas, os e-mails enviados e recebidos.
Vamos lá a esclarecer que um casal é um casal, duas pessoas portanto, e que isso de nos tornarmos um só é muito bonito mas é na poesia.
Vou tendo cada vez mais dificuldade em abdicar da minha liberdade e acho que neste aspecto me tornei ‘pior’ depois de casada.
Na realidade, acho que me tornei muito mais independente e senhora do meu nariz depois do casamento.
Afinal, para dar justificações de tudo a toda a hora já bastaram os 28 anos em que vivi com os meus Pais, a quem, a esses sim, e por direito, dava conhecimento de todos os passos.
O meu marido às vezes mete-se comigo, diz que eu tenho a “mania que sou muito independente”.
É isso.
Preciso de mimo, tanto quanto toda a gente (às vezes mais...), preciso de ser confortada, tenho uma imensa necessidade de aprovação, de ser elogiada, de ser cortejada.
Acho isto normal.
Porque, para mim, a melhor forma de demonstrar amor é amando.
“Adoro-te”, “és linda”, “és maravilhosa”, “és doce” [:)], são bonitas manifestações do ‘gostar’.
Muito melhores do que ‘onde é que andaste? com quem?’.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não queria estar a fazer premonição, mas estava curioso qual seria o proximo post...

Não por ter algum dom "extra"sensorial (senão montava um consultório!), mas pela situação ter gerado, umas "nuvens" bem carregadas, num céu que até estava bem azul nesse dia.

Não é que não tenha ficado incomodado, ou que concorde "por obrigação" com a atitude, mas tenho que a aceitar, por convicção.

Porque acredito!

Acredito que uns 15 kilos a mais, umas ancas que não encontram no armário do costume calças que lhe sirvam, e o pormenor de pelo menos à 3 meses não conseguir ver os pés, provoquem alterações.

E se a isto juntar umas hormonas que não páram de andar aos saltos, em festa, antevendo a chegada de de outro D, o calor desenfreado, as noites passadas com uma almofada entre as pernas, e o corpo completamente desfigurado, tenho mesmo que dar um desconto...

Bjo
D

nica disse...

Em nenhum momento me atreveria a criticar-te.
O blog é o balde onde despejo o que me vai na alma, só isso.
Posso apenas imaginar que não seja fácil, passar por todas as alterações que descreves tão bem.
E o facto de dares "um desconto" só faz de ti uma pessoa ainda melhor e aumenta, em muito, a amizade e a admiração que já sinto por ti.
És grande, amigo (e não é só em tamanho). :)

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