Eu tenho-me esforçado. Tenho andado a tentar evitar deixar-me ir com a corrente. Mas já não aguento mais. Tenho mesmo de pronunciar-me sobre as declarações do ministro das Obras Públicas.
Pronto, eu gosto do primeiro-ministro. Gosto, o que é que eu posso fazer. A gente não escolhe estas coisas.
O primeiro-ministro escolhe bem as palavras. Fala pausadamente e com calma, explica-se com clareza, pensa antes de abrir a boca.
Deve ter aprendido, a agir assim. Ensinaram-no e ele aprendeu.
Agora os ministros. Isso é outra conversa, literalmente.
Alguém devia explicar-lhes, mas como se eles fossem muito burros, que não podem dizer, publicamente, e muito menos com jornalistas e câmaras de televisão presentes, todos os impropérios que lhes vêm à cabeça.
Estas declarações a propósito do aeroporto. Eu, que não sou engenheira, não faço a mínima ideia sobre se a Ota é ou não a melhor localização para construir um novo aeroporto.
Faz-me um bocado de confusão imaginar que vou demorar mais de vinte minutos a chegar ao aeroporto, tal como acontece agora (fora da hora de ponta, claro), mas a gente habitua-se e ao ritmo de uma viagem ao estrangeiro por ano, enfim, não é por aí…
Quanto ao restante, sinceramente, estou-me perfeitamente a borrifar se o aeroporto é construído na Ota ou em Rio Frio ou em Alguidares de Baixo.
Desde que não deitem árvores a baixo, não matem animaizinhos e não tirem o sossego às pessoas, por mim, tudo bem.
Mas em relação ao que me trouxe. As intenções do ministro podem ser as melhores. Ele lá deve ter as suas razões para considerar que a margem sul do Tejo não é uma opção a considerar relativamente à localização do novo aeroporto.
Agora os argumentos que invocou esses é que, por favor… Eu não conheço a Ota, mas quem ouve o ministro falar fica com a ideia de que aquilo será uma metrópole tipo Nova Iorque… por oposição à margem sul, o tal ‘deserto’ de gente e de infra-estruturas.
E depois a metáfora do ‘problemazinho’… socorro, o que é que lhe passou pela cabeça?!? Uma enorme corrente de ar, certamente…
Já a história da inscrição na ordem dos engenheiros não lhe tinha saído muito bem, mesmo que já o tenha ouvido a explicar que se estava a dirigir ao bastonário da ordem, que estava sentado na primeira fila, e que o que ele queria dizer era que é, de facto, engenheiro de profissão, “já fiz projectos”, ouvi-o a dizer na SIC Notícias.
Gaffes todos cometemos e gaffes de políticos também não são propriamente novidade. Acho que há uma geração de políticos que já percebeu que, na comunicação hoje em dia, a forma é muitas vezes tanto ou mais importante que o conteúdo.
Se isto é mau? Talvez seja, mas é um facto.
Ainda outro dia estava a ler, numa revista, um artigo sobre o estilo CDS/PP inaugurado no recente congresso do partido. Camisa aberta, revelando um pouco do peito [estou a falar dos homens…], calças bege, sapatos vela. Um artigo dedicado a este tema, atenção. Tudo bem que o congresso não foi propriamente excitante e também já escrevi aqui uma vez sobre o maravilhoso universo dos congressos partidários, que servem mais de montra do que de palco para o debate político. Mas um artigo dedicado à indumentária de Paulo Portas y sus amigos, isto é bárbaro!
E não é a primeira vez que isto acontece. E se acontece é porque, de facto, a forma conta muito, e conta cada vez mais, nestas coisas da política.
Lembro-me de as deputadas do Bloco de Esquerda Ana Drago e Joana Amaral Dias serem muito faladas na imprensa única e exclusivamente por causa do seu aspecto físico. E a Teresa Caeiro, também é muito apontada por ser uma mulher interessante e com estilo… mais por isso do que pelas ideias que defende.
Ora, se o ministro das Obras Públicas não é propriamente uma estampa devia, pelo menos, cuidar de forma como expõe os seus argumentos [é que se ele tivesse a pinta do Nuno Melo a malta ainda podia distrair-se e dar-lhe o desconto].
segunda-feira, 28 de maio de 2007
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1 comentário:
Nuno Melo?!?!??!? (dass)
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