sexta-feira, 18 de maio de 2007

Isto passa

[aviso à navegação (e aos amigos que por cá passam para saber notícias minhas): este post vai permitir perceber que, para lá do muito tempo que passo a rir ou, pelo menos, a sorrir, também há dias de choro. Porque o meu blog também serve para despejar tristeza e frustração nos dias amargos, cá vai disto...]
Suponho que podia começar este post com a expressão "querido diário".
Não vou fazê-lo, mas podia.
É um assunto sobre o qual pensei que não viria a escrever mas hoje, particularmente hoje, acho que só a escrever consigo deitar cá para fora o que vai cá por dentro.
Será por ser um assunto sobre o qual não me sinto muito à vontade para falar? Talvez seja.
Suponho, têm-me dito, que a quase todas as mulheres passa pela cabeça, num ou noutro momento, antes de serem mães, que talvez não possam, ou não consigam, ter filhos.
Passou-me, muitas vezes, a mim, ao longo dos anos, isto pela cabeça.
Disse-o, muitas vezes, a pessoas chegadas.
Disse-o porque era o que sentia, mas desejando sempre, como é óbvio, estar enganada.
Também disse, tenho dito, com frequência, que não orientei a minha vida para ter filhos. Isto é, não planeei nesse sentido, não fiz projectos.
As etapas foram-se sucedendo, naturalmente, metas definidas cada uma a seu tempo, o curso, primeiro, o emprego, depois, o casamento, mais tarde.
Paralelamente, e ainda que possa parecer contraditório, sempre fiz questão de dizer que não me limitaria a ter só um filho.
Ser filha única é uma condição à qual nunca achei piada nenhuma.
Se tivesse uma irmã, ou um irmão, provavemente estaria a falar com ela(e) sobre este assunto, em lugar de estar aqui sentada ao computador.
As minhas amigas, as minhas melhores amigas, também já o disse, gostam de mim, claro, mas ambas têm irmãos e eu sei, muito bem, que não há laço tão forte como o laço de sangue, por mais que amemos os nossos amigos.
Insisto, por isso, com todas as minhas amigas, para que não deixem os seus filhos serem filhos únicos para o resto da vida. Estão a ouvir?!?
Ora bem, para ter mais do que um filho, convém que tenha o primeiro e é aqui que as coisas começam a complicar-se.
Tenho ouvido, ao longo dos últimos doze meses, dezenas de histórias, algumas contadas na primeira pessoa, sobre como estas coisas nem sempre acontecem facilmente, sobre como tanto pode demorar um mês como um ano, sobre como o importante é não "entrar em stress", sobre como é "perfeitamente normal" esperar quatro, cinco, seis meses até que a gravidez aconteça.
Tenho ouvido com paciência.
Nos últimos tempos, porém, noto que os comentários começam a escassear, que a sacramental pergunta "então, há novidades?", é colocada com cada vez menos insistência. Julgo que acreditam magoar-me, ao repetir a mesma pergunta, uma e outra vez.
Na realidade, incomoda-me que deixem de perguntar com receio de serem incómodas. Quando chegamos a um ponto em que este assunto se torna incómodo, é altura para começar a ficar preocupada.
Para começar a pensar que se calhar não é assim tão "normal".
A despreocupação começa, por isso, a dar lugar à angústia.
No momento em que dei por mim a pensar "se calhar, nunca vou ter filhos", abateu-se sobre mim uma tristeza imensa e inexpressável.
Uma sensação de vazio pesada, desesperançosa.
Eu, que até queria três, será possível?!?
Não sei, mas começo a ter muito medo.
As mulheres que me rodeiam são, em brutal maioria, mães. Mães dedicadas, mães preocupadas, mães extremosas. E são, para lá de tudo o resto e em primeira análise, mães. Porque a sua vida gira, e isto é mesmo verdade, em torno dos seus filhos. Preenchem-nas.
Se a relação com os irmãos é o que é, imagine-se a ligação que se tem com um filho.
Será possível, será justo, que também disto eu tenha de ser privada?
Emociona-me, agora mais que nunca, ouvi-las falar sobre como é maravilhosa a condição de mãe. Observo-as, enquanto se desfazem em mimos, e como são recompensadas, com um amor que é maior do que tudo o que possa imaginar-se.
É que nem sobrinhos eu vou ter, merda!
A família que eu imagino, agora, não ficará completa sem filhos.
A triste realidade é que me falta ter alguém de quem possa dizer que é um pedaço de mim. Se calhar estou a ser egoísta, mas a falta deste alguém está a abrir um buraco enorme na minha vida. Apetece-me o toque, apetece-me o cheiro. Igual ao meu. Extraído de mim. Poder procurar os meus olhos noutra pessoa. O formato da mãos e dos pés, o desenho das sobrancelhas, o contorno dos lábios.
Para minha profunda e enorme tristeza, chego à conclusão que, de facto, ninguém é de ninguém, a não ser os filhos dos pais.
Porque os romances terminam, os casamentos acabam, as chamas apagam-se.
Mas os filhos ficam para sempre. E são mesmo "nossos", sendo que este "nossos" pode ser dito à boca cheia, e soar a verdadeiro. Muito mais verdadeiro do que "minha mulher", "minha namorada" ou "meu amigo".
Posto isto, se e quando vier a ter filhos, é provável que me transforma na mãe mais lamechas de todos os tempos.
Isso seria, sem dúvida, uma coisa boa.
Porque acho que nunca mais voltaria a sentir-me sozinha. É impossível, acredito eu, que uma mãe volte a sentir-se só. Impossível.
Será que é disso que eu tenho medo?
Ai, Cristo, estou a tornar-me depressiva, socorro!!!
...
Pronto, agora que estou suficientemente triste, posso ir enfiar a cabeça debaixo da almofada e dormir.
Não me sinto muito melhor depois deste desabafo, mas isto passa.

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