quarta-feira, 8 de novembro de 2006

O dom

A minha relação com o Divino tem contornos particulares. Mesmo entre os crentes, dificilmente duas pessoas crêem da mesma forma. Cada um acredita à sua maneira, cada um encara de modo diferente a sua relação com Deus. Eu tenho a minha e vai muito bem, obrigada.
Já com os padres, a história é outra. Gosto, por princípio, de pessoas, logo, porque os padres são pessoas, gosto, por princípio, de padres.
Para que uma pessoa nos marque, para que sintamos que a nossa vida ficou mais completa graças a ela, tem de ser especial. O mesmo acontece com os padres.
Atravessou-se na minha vida, há uns anos, uma pessoa especial. O Padre Martins é uma pessoa boa, de trato fácil, conversador nato, bem humorado. E sábio. Há muito que não o vejo. Mas a sua imagem reconforta-me. Gostava sempre de conversar com ele porque as suas palavras me comoviam e me faziam sentir uma pessoa melhor. A ver se sei dele, como tem passado. Espero que bem.
No domingo dois reclusos mantiveram sequestrado um padre, durante horas, na cadeia de Pinheiro da Cruz. Se alguma coisa de positivo resultou deste episódio, "caricato", nas palavras do próprio sacerdote, foi o facto de ter dado a conhecer, ao País, um padre muito interessante.
Assisti, ontem, à entrevista que deu a um jornalista da SIC e achei uma delícia. Porque é que um padre não há-de ser uma pessoa bem disposta, porque é que não há-de gostar de beber uns copos com os amigos, porque é que não há-de contar anedotas, porque é que não há-de dizer "granda cena", "fiquei na boa" ou "passei-me com aquilo". Por razão nenhuma, certo?
Porque é que um padre não há-de inscrever-se para participar num concurso de televisão, como fez o padre que esteve anteontem e ontem, e vai voltar a estar hoje, com o Malato no "Um contra todos".
Explicou que o dinheiro que, eventualmente, possa ganhar, vai ser aplicado no restauro da "sua" igreja. Explicou isso e muito mais. Falou da fé, de Deus, dos homens e da igreja de uma forma que provalmente tocou o coração de todos quantos o ouviram.
Tocou o meu. Quanto mais não seja, pelo sorriso, estampado no rosto, tão sincero e genuíno quanto um sorriso pode ser.
Aprecio, cada vez mais, as pessoas que sorriem assim e tenho aprendido, eu própria, a sorrir com cada vez maior frequência, para as outras pessoas e para mim mesma, por tudo e também por nada, porque acredito cada vez mais que, mais do que os olhos, o nosso sorriso é o verdadeiro espelho da nossa alma.
Este padre, José Gonçalves, contrapôs o sorriso à gargalhada e explicou que nem sempre a gargalhada é necessária (como eu concordo...) mas que o sorriso, esse sim, é um dom de Deus, e falou com simplicidade sobre as coisas que o fazem sorrir.
A mim, fez-me sorrir. Queira Deus que não nos faltem os motivos para sorrir. Sempre. Como aqui.

1 comentário:

Totoia disse...

Costumo ver o programa do Malato, neão tenho memória de ter visto um programa interessante como o de ontem. Com Padres assim até dá vontade de ir a missa.

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