Isto não é um queixume. Não é porque eu não posso queixar-me. Mas estas ideias andam a bailar-me na cabeça há já alguns dias e tenho mesmo de as despejar aqui.
Quando estamos casados há, digamos, um ano, as pessoas esperam que tenhamos filhos. E perguntam «então?!?», sabem, aquele «então?!?» de quem diz «vão despachar-se ou não?».
Felizmente, não há muitas pessoas que me façam esta conversa. Não há muitas, mas há algumas. E porquê? Ora, porque É SUPOSTO ter filhos depois de casar.
E é aqui que a coisa começa a dar-me que pensar. Esta história do «é suposto» rege toda a nossa vida. Se não, reparemos.
Em pequeninas. É suposto brincarmos com bonecas. Para as meninas que não o fazem, até arranjaram um epíteto, «maria-rapaz» (não, eu nunca fui uma). Depois. É suposto ir às aulas e ter boas notas. É suposto tirar um curso. É suposto arranjar um emprego. É suposto sair de casa dos pais. É suposto comprar casa. É suposto casar. É suposto ter um filho (lá está...). E depois outro. Porque não é suposto ter só um.
E fico-me por aqui, correndo o risco de me tornar maçadora...
Será que existe alguém, uma pessoazinha que seja, que tenha contrariado tudo isto. Que tenha ido contra todos os «é suposto»... e seja feliz.
Alguém que não tenha tirado um curso. E tenha o emprego dos seus sonhos.
Alguém que não tenha comprado casa. E viva numa alugada, que nunca vai ser sua, mas que é, simplesmente, perfeita.
Alguém que não tenha casado. Nem viva junto. Mas cuja casa raramente está vazia.
Alguém que não tenha filhos, nem tenha adoptado. Nem queira ter.
Alguém que não diga «é suposto».
Alguém que, apesar disso, seja brutalmente feliz.
terça-feira, 3 de outubro de 2006
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2 comentários:
Pois é as pessoas nunca estão satisfeitas, querem sempre mais, tb fico fula com essas perguntas.
Não conheço ninguém assim completamente livre mas acredito que ande para aí muita gente feliz sem raízes.
Totoia, é interessante que digas "completamente livre"...até porque eu nunca falei de "liberdade" no meu post...mas tens razão, no fundo é disso que se trata...obrigada, acrescentaste uma nova perspectiva! :)
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